Criando Referências e Objetivos: Além das Limitações Sociais
- Daniel Jezini
- 20 de jul. de 2023
- 4 min de leitura
Bimensário Edukhan – Julho de 2023
Julho! Eu ia escrever no início das férias, mas... eram férias. No fim das contas, o último texto foi em março! Matei um bimestre inteiro. Ao menos finalizamos um semestre produtivo.
Na Casa de Ismael, 15 crianças e jovens foram acompanhados de março a julho e pudemos ver a evolução deles. Os cinco que estão no ensino médio já operam frações com algum conforto, e seguem recuperando as equações que se perderam pelo caminho. A professora de português Camila Gregório está com eles todos os dias e o professor de física, Tobias, às terças, para ajudar com as matemáticas. Os demais estão no fundamental, e podem se beneficiar mais ainda.
Conversei com os mais velhos. Estão focados e parecem ter noção da oportunidade que estão recebendo. São filhos e filhas de diaristas, jardineiros e trabalhadoras domésticas que moram longe, mas trabalham perto, como costuma ser.
Os pais sabem da importância da educação, mas pouco podem fazer além de levá-los à escola, cobrar um pouco e torcer muito. O sistema educacional é acolhedor e cruel ao mesmo tempo. Para evitar altos índices de repetência, que agravam as taxas de evasão escolar, as avaliações de conhecimento são geralmente suaves e as ajudas nas notas, muitas.
Como efeito colateral, os jovens mais dispostos não precisam se dedicar tanto para ter bons resultados no boletim. Aprendem mais ou menos. Os menos dispostos vão passando de ano sem absorver o básico necessário. Frustrante para os professores mais preocupados, mas nem tanto para as famílias, que tiveram ainda menos educação e não possuem, como regra, referência para comparação. Isso tudo sem contar a tragédia da Covid longa na história pedagógica dessa turma, quando por dois anos nem as avaliações podiam ser feitas com regularidade.
É nesse jogo que os Edukhandos recebem um empurrão e chegarão mais preparados ao fim do ensino médio e para o Enem. Prometi a eles o computador em que trabalham caso passem na UNB. Pouquíssimos conseguiram em muitos anos, mas é possível! Eles concorrem com outros em situação parecida - por causa das cotas.
Um obstáculo sério que a turminha da Casa de Ismael enfrenta é que TODOS vêm de gerações em pobreza estrutural, o que lhes alonga os desafios e encurta os horizontes. Parte essencial do nosso trabalho é criar referências e objetivos para mexer com a cabecinha da molecada. Sem visão e fé não há sucesso.
Como exemplo bem concreto, uma jovem beneficiária do Bolsa Família teria acesso à rede de apoio do Estado ao ingressar na universidade, falo de dinheiro mesmo, que está à disposição justamente para incentivar e amparar pessoas como ela. Só que para isso ser um objetivo alcançável, ainda que com concentração e força de vontade (muitos têm), ela precisa optar por NÃO mergulhar nos inúmeros cursos profissionalizantes à disposição e focar nos estudos. Precisa também conter a ansiedade de todos em casa – dado que ela pesa no orçamento.
Ela deve tomar essa decisão ponderada e madura aos QUINZE ANOS e com os hormônios bombando! Sem um mentor ou orientador, nem ela nem a família seriam capazes de desconfiar que, no fim das contas, as possíveis bolsas universitárias para baixa renda praticamente empatam em valor com eventuais empregos possibilitados pelos cursos profissionalizantes (não confundir com cursos técnicos). Obviamente, a expectativa de crescimento dessa menina com formação superior numa UNB diurna nem se compara com a alternativa, com o bônus de novas experiências, amigos e compreensão do mundo. Não raro, isso vale mais do que a formação teórica.
Pensando nesses horizontes ampliados, reformamos a sala que nos foi cedida na Casa de Ismael, nossa parceira do coração! Compramos cadeiras bonitas, e encomendamos móveis projetados sob medida. Ainda não está como eu gostaria por causa do orçamento - piso e teto podem melhorar, por exemplo - mas espero que o ambiente também comunique que eles que podem sonhar com um futuro diferente.
Em outra frente no Guará, no Centro de Ensino Médio 01, outra parceria querida do Edukhan, concluímos com sucesso duas matérias eletivas sob a condução do Professor Vinícius Pessoa, nosso primeiro voluntário, e que agora é professor temporário na Secretaria de Educação do DF, e do Gabriel, voluntário estudante de engenharia. Embora a escola não tivesse computadores disponíveis para o projeto - há aulas de robótica no mesmo horário e que quase sempre ocupa o laboratório de informática - algumas doações e criatividade viabilizaram a jornada, com cinco chromebooks e muitos celulares para acessar a Khan Academy.
Assim, mais de 30 alunos do primeiro ano do ensino médio estiveram conosco por uma hora e meia semanal. Imagine que, nessa disciplina eletiva, a molecada permanece concentrada estudando assuntos importantes, mas que ficaram para trás ao longo dos anos.
Em um novo front, acompanharei em breve a Adriana, apaixonada servidora do TJDFT na Vara da Infância e da Juventude, em visita a unidades de medidas socioeducativas. São vinculadas à SEDES-DF e cuidam de menores em conflito com a lei. Vamos planejar como levar o Edukhan a eles, em fase piloto. Imagine poder contribuir com a recuperação de alguns pela educação? Emoções à frente.
Além disso estamos em Nova Iguaçu-RJ também, em parceria com o projeto crescer com integridade, mas esse texto já ficou comprido demais. Preciso escrever com mais frequência! Aff.... e mal terminamos o primeiro ano de Edukhan. Saímos de 5 atendidos ano passado para 50 neste semestre. Sei lá onde isso vai parar, caso encontremos pessoas dispostas e doadores empolgados.
Há muito pela frente!
Falando em doadores, finalmente temos nossa conta bancária e PIX. Não precisa ficar tímido 😊! Instituto Edukhan de Resgate Acadêmico e Escolar: Dados Bancários: Banco do Brasil / Agência: 1606-3 / Conta Corrente: 1017626-8 / CNPJ e PIX: 50.615.676/0001-68
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